Notas de leitura sobre “Gabinete de Curiosidades”

Ed Caliban
Revista Caliban issn_0000311
3 min readDec 30, 2017

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Fotografia de José Lorvão

Ada Kroef

Mergulhei em três caóides: ciência, arte e filosofia! Generalidades, Hipermodernidades e Raridades!
Luís Filipe traça três planos que perpassam sua escrita, provocando deslizamentos, deslocamentos violentos que nos provocam a pensar o não-pensado do pensamento! Escrita virtual que desenha atualizações ou não.
Senti o cheiro do gabinete, marcado com uma certa nostalgia de valores de uma Modernidade que já se foi, e que retorna, mas nunca para o mesmo… Luís não precisa de Lipovetsky como interlocutor, não, não para este momento!
O Esquizo pode ser algo positivo, na medida em que tem potência para abrir a significação em novos sentidos, produzir novos sentidos, criação. Não pensar no desejo como falta, mas como fluxo motor que coloca em conexões o maquínico, máquinas de máquinas, sem nenhuma metáfora. Na infinitude do caos, o real é finito, porque é uma produção de verdades!l A existência será legítima?
A mundialização ao mesmo tempo que homozeneiza, investe em territórios identitários, no mercado das identidades: contornos mutantes em fronteiras fixas. As identidades são dispositivos de controle, do previsível, do reconhecível… Apostemos no indiscernível, no não identificável, no não reconhecido… sim, o inusitado, a surpresa, o descontrole, a criação do novo! Como escreve Luís “ Cruzaram fronteiras como se elas não existissem e fizeram das ilhas trapézios sem rede de uma paleta de artistas sem nação cujo território era o universo que criava em cada voo”.
“A escatologia de um tempo que matou tempos”, um processo de civilização humanista, num período do mercantilismo, do colonialismo, onde o aniquilamento dos saberes locais eram justificados em nome de um Deus, em nome da civilização de povos bárbaros!!! OhI Imundos europeus civilizadores, quanta escatologia!!!
Um certo romantismo em acreditar em um futuro de paz, uma crença numa revolução de mentalidades; mas como criar corpo sem órgãos na produção de uma subjetividade capitalística do significante despótico, do Ser e o capital que faz calar outros modos de expressão?
A rostificação é uma política de identificação, mas como desrostificar? Resistir, fechando os olhos vigilantes do rosto através da arte, da literatura como a de Luís Filipe! Exterminar com o organismo, produzindo ordenamentos do caos..”. Tudo é urgente quando se esquece do importante”! Viva a falência do ser, que opera pelo ou, por dicotomias e criemos o estar, devires, a gagueira do e…e…e…! Roubo e traição podem ter outro sentido, ser traidor da própria língua, tornar-se estrangeiro, num devir-minoritário da literatura!

Mergulhei de cabeça nas raridades do “Gabinete”, deixei-me levar numa escrita que provoca deslocamentos, violência do pensar, impulsionadas, pelas letras, linhas, escritas fugidias que resistem a significação fechada em verdades, apontando, desafiando, colocando-nos sempre dúvidas, muitas dúvidas e nenhuma verdade! Raridade!

Ada Kroef, dezembro de 2017.

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