Fabricando Jair Bolsonaro

Ed Caliban
Revista Caliban issn_0000311
23 min readOct 10, 2018

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Por Felipe Castelo Branco

Do antipetismo a Bolsonaro

É inegável que a principal força política de Jair Bolsonaro descende do antipetismo. Grande parte de seus eleitores, quando surgem em sua defesa, em geral empreendem um duplo trabalho: desmentir, relativizar, desconversar ou se apropriar das posições e declarações públicas de seu candidato; e afirmar a urgência de sua eleição contra o PT. Em relação a segunda tarefa, dois termos não tardam em aparecer em socorro ao argumento da ameaça iminente: ‘corrupção’ e ‘comunismo’. Em uma segunda associação imediata, o termo ‘comunismo’ e/ou ‘esquerda’ vincula-se aos dois ícones privilegiados dos eleitores do Messias: ‘Cuba’ e ‘Venezuela’.

A despeito das muitas variáveis que tem se produzido nessas associações, a construção do antipetismo inicialmente se alimentou basicamente apenas do primeiro termo, isto é, da associação entre o Partido dos Trabalhadores e o termo “corrupção”, antes mesmo que as denúncias do chamado “mensalão” tivessem atingido seus altos escalões (as punições, que começam em 2011, em sua primeira fase associavam o PT a um escândalo que atingia diversos partidos), e pelo menos um ano antes do início das operações da chamada “Lava-Jato” (em 2014). O antipetismo surge inicialmente como uma arma mobilizada pelo PSDB para minar as bases políticas da única potência eleitoral efetivamente existente no país, ou seja: Lula. Sua penetração na opinião pública foi gestada especialmente a partir de 2013 e provavelmente visava enfraquecer a força do PT na disputa eleitoral de 2014, mas, acima de tudo, visando gerar seus frutos definitivos nestas eleições de 2018, eliminando o PT da disputa. O fato é que o poder eleitoral do antipetismo saiu do controle e das mãos do PSDB nos últimos anos, tornando-se a principal alavanca eleitoral da política partidária brasileira. Contrário às expectativas do PSDB, a apropriação do antipetismo, que a partir de 2015 passa a circular entre várias mãos, se mostrou inegavelmente mais eficaz, do ponto de vista eleitoral, pelo seu principal representante hoje: Jair Bolsonaro.

Em sua origem está a imprevisibilidade das manifestações de junho de 2013, que tomou desprevenida a organização do PSDB. Embora as pautas das ruas naquele período fossem diversificadas, a reivindicação central das manifestações orbitava em torno da rejeição ao alto valor do transporte público e da falta de qualidade e alto custo desses serviços. O tema atingia diretamente as políticas dos governos estaduais e como o epicentro dos atos emanava de São Paulo, o PSDB interpretou imediatamente as jornadas de rua como um ataque ao governador Geraldo Alckmin (governador do estado de SP na ocasião). Além de rejeitar a mobilização popular, o PSDB responsabilizou inicialmente o PCdoB pelas ações, diminuindo a importância dos atos e tentando desviar o foco das reivindicações populares para a prefeitura de Fernando Haddad, do PT: “os excessos nas manifestações [tem] um culpado: o prefeito Fernando Haddad, por não cumprir suas próprias promessas de campanha.” (https://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/06/juventude-do-psdb-lanca-nota-contra-manifestacoes-em-sp.html). Dois dias depois de sua primeira declaração pública, quando o movimento assume dimensões nacionais, o PSDB muda de posição e de estratégia, assumindo a inevitabilidade de se pronunciar a favor dos atos públicos (https://www.revistaforum.com.br/juventude-do-psdb-paulistano-volta-atras-sobre-manifestacoes/). Havia se tornado impossível rejeitar a força das jornadas de junho e, ao mesmo tempo, a cúpula PSDBista havia se dado conta de que o movimento não havia sido organizado de forma linear e centralizada e, portanto, pulsava como uma força sem lideranças formais (inclusive partidárias, o que retirava o habitual protagonismo do PT deste tipo de ação popular). As marchas de 2013 não pertenciam a nenhum partido. Essa, que foi a principal força dos eventos de 2013, fomentou, por outro lado, uma expectativa entre as lideranças PSDBistas em organizar um direcionamento para a força difusa dos atos públicos, cooptando a insatisfação generalizada em direção a um inimigo visível: o governo presidencial PTista. Embora já iniciadas as condenações no caso do mensalão naquele momento, o governo de Dilma Rousseff, durante a primeira metade do ano de 2013, atingia a assombrosa marca de 79% de aprovação (https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2013/03/19/dilma-cni-ibope.htm), e poucos efeitos das manifestações daquele ano haviam respingado sobre sua imagem.

Em 21 de junho de 2013, em um dos momentos mais críticos das jornadas de junho, a direção nacional do PSDB, em carta assinada por Aécio Neves, torna público seu “apoio” às chamadas “manifestações”, afirmando que os atos de rua seriam motivados por “uma aguda crítica à corrupção e à impunidade que persistem na base do sistema político” e denuncia “o oportunismo do alto comando do PT, que tenta se apropriar de um movimento independente, ao determinar que militantes do partido se misturem aos manifestantes com o claro intuito de diluir as cobranças feitas ao governo federal” (http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/psdb-critica-oportunismo-do-pt-e-diz-que-protestos-miram-corrupcao.html). Naquele momento, a “culpa” pela insatisfação popular se desloca para o PT, somando-se a esse deslocamento a ideia de uma insatisfação popular com a corrupção PTista. Quem esteve nas ruas sabe que pouco se bradava contra Dilma Rousseff. A insatisfação política era generalizada, mas as reivindicações atacavam acima de tudo os vícios estruturais da política partidária e os grandes gastos com os mega-eventos ainda por vir: a Copa do Mundo, o Pan-Americano e as Olimpíadas. No entanto, o PSDB assume uma tarefa. A tarefa de informar a própria massa que foi às ruas que ela estava sendo enganada. Que seu repúdio à classe política, na verdade, era direcionado ao PT e que o próprio partido, ao marchar nas ruas ao lado dos insatisfeitos com sua base militante, tinha a intenção de desviar a atenção do verdadeiro foco do clamor popular: a relação promíscua entre o PT e a corrupção.

Note-se que apesar da relação entre o PTismo e a corrupção moldar inicialmente a estratégia eleitoral PSDBista, o desdobramento dessa associação imediata é restrito. Nada de comunismo, nenhuma menção a Cuba, tampouco se fala no chamado “centrão” e nenhum dos outros partidos da base política do PT são mencionados. Nem mesmo o PTB, partido de Roberto Jefferson que funciona como gatilho inicial para a chuva de denúncias que deu início ao escândalo do mensalão; ou mesmo o PP, partido da base do PT que é o principal envolvido no escândalo e será o articulador central no futuro “petrolão” (https://g1.globo.com/politica/blog/matheus-leitao/post/2018/04/24/pp-de-ciro-nogueira-e-um-dos-mais-envolvidos-em-investigacoes-como-lava-jato-e-mensalao.ghtml). A partir daquele momento, a associação entre o nome PT e o termo ‘corrupção’ passa a ser tantas vezes repetida e incentivada nesta estratégia, que mesmo sem ser indiciada ou mesmo investigada no início de 2014, ano em que concorreria a reeleição contra Aécio Neves, a popularidade de Dilma Rousseff cai de 79% para 39%. A estratégia PSDBista (e mais tarde reproduzida pelo próprio Ministério Público) será falar em “organização criminosa” ao referir-se ao Partido dos Trabalhadores, uma maneira de transmitir a ideia sub-reptícia de um plano oculto de corrupção que atingiria, direta ou indiretamente, todos os membros e apoiadores do partido. Embora a ideia de uma organização intentasse manchar a imagem de todos os partidários PTistas, acusados ou não formalmente de corrupção, evitou-se estrategicamente que essa associação ao tema da corrupção se estendesse aos partidos ligados a base política do PT, mesmo que ativamente participantes de seu governo no poder legislativo e nas estatais. Fala-se em “quadrilha”, em uma insinuação de que as ações do alegado “grupo criminoso” envolva todos os membros do Partido dos Trabalhadores, sem atingir nenhum de seus parceiros, aliados ou rivais.

De fato, a estratégia teve êxito. As desfiliações ao PT se produzem em massa, e jamais os membros de partidos como o PTB ou o problemático PP terão sua imagem diretamente manchada. Esse isolamento abstrato do PT foi um dos principais motivadores para a onda de aderências de políticos profissionais ao antipetismo. Nesta mesma onda surfou o então deputado Jair Bolsonaro. O candidato a presidência era deputado pelo PTB, sendo base do governo PTista, entre 2003 e 2005, justamente os anos em que o PTB admitidamente participou do esquema do mensalão, segundo relato do próprio presidente do partido, Roberto Jefferson. Mesmo participando do governo do PT, Bolsonaro jamais será associado ao escândalo do mensalão (ao contrário de Lula, que não foi nem mesmo indiciado no escândalo). Ao se desfiliar do PTB, Bolsonaro adere ao PP entre 2005 e 2016. Além de permanecer na base ampla do governo do PT por mais 11 anos, Bolsonaro troca um dos principais agentes do escândalo do mensalão (o PTB) pelo principal envolvido no escândalo do petrolão, o partido que mais recebeu dinheiro da JBS dos irmãos Batista e o partido mais investigado na Lava-Jato, ou seja, o PP (https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/24/politica/1524605415_828915.html?id_externo_promo=enviar_email). Ainda assim, a imagem de Bolsonaro será muito habilmente afastada do imbróglio, tanto de seu vínculo aos escândalos do mensalão e petrolão, quanto de seu vínculo com o próprio PT, que ele chega a apoiar publicamente em diversos de seus discursos (https://www.youtube.com/watch?v=1Nqrsmt980E).

Por que a estratégia de construção de um antipetismo parecia útil ao PSDB como principal oposição eleitoral ao PT? Afinal, não seria um risco para o próprio PSDB se queimar na centelha acesa do discurso da associação entre ‘corrupção’ e PT? A resposta é sim. No entanto, os riscos da estratégia poderiam ser compensados no tempo da colheita dos frutos prometidos. A estratégia PSDBista apostava na despolitização da disputa eleitoral, na medida em que insistir no embate político e na aposta privatista dos tucanos havia levado o partido a derrota em pelo menos três disputas eleitorais nacionais, até aquele momento. O fato é que, por mais grave que seja, o tema da corrupção é uma ferramenta importante de despolitização de qualquer debate. O discurso anticorrupção se produz na generalidade. Ao alimentar a suspeita da corrupção como motivador político oculto, legitima-se um debate que desconsidera números, conjunturas internacionais, posições políticas. O cenário político se transforma em massa amorfa, indiferente às nuances específicas que são fundamentais a política partidária. Com seu forte apelo moral, a ideia de corrupção desconsidera indiciados, réus, condenados e absolvidos. Desconsidera, inclusive, o respeito a ritos da normatividade jurídica. A anticorrupção é frequentemente punitivista. E o punitivismo mobiliza o mais eleitoreiro dos afetos, o ódio. Dispensando o recurso a números ou a análise concreta dos fenômenos políticos, o discurso anticorrupção mobiliza a boa intenção moral e em troca produz seus monstros. É da massa amorfa do “todos os políticos são iguais” que um traço de distinção promete criar um destaque personalista que torne possível uma nova figura elegível. A eleição retornaria a uma espécie de “grau zero” da disputa, na dependência de quem se sair melhor no discurso do “combater tudo que está aí”. Eis a primeira aposta do antipetismo. Eis a aposta do PMDB naquele momento. Eis a fórmula que fabricou Bolsonaro.

O problema difuso do anticomunismo e a América Latina

Impossível determinar com precisão o momento em que o velho discurso anticomunista se associou efetivamente ao antipetismo. A aproximação entre o Partido dos Trabalhadores e a ameaça comunista tem sido produzida desde o próprio nascimento do partido. No entanto, o anticomunismo havia permanecido silencioso no seio do espectro eleitoral brasileiro e não dava sinais de que tendia a despertar por si mesmo, poucos anos atrás. Embora tenha se mantido latente, o anticomunismo se limitava a surgir pontualmente em alguns raros discursos que ganhavam um ar caricatural ao saírem das sombras. Desde a década de 1980, o anticomunismo parecia pouco realista politicamente e permanecia basicamente desconhecido entre as gerações mais jovens.

Esse é o elemento que aponta para a falsa simetria que se produz ao se comparar a ascensão conservadora no Brasil com figuras do discurso conservador internacional como Trump ou Le Pen. Embora façam parte de uma mesma onda nacionalista de tendências despóticas, que responde internacionalmente aos efeitos e contradições atuais do neoliberalismo, nenhum discurso fora da América Latina tem lançado mão do tema da ameaça comunista como um problema real e atual a ser combatido. Talvez o principal ingrediente para o renascimento do anticomunismo no Brasil seja precisamente sua fonte geográfica: a América Latina. O anticomunismo se alimenta do desconhecimento e da aversão brasileira à América Latina.

Uma das questões que devemos nos colocar para compreender esse problema é: por que, ao contrário do que acontece no resto do mundo, o anticomunismo não se enfraqueceu no Brasil, mas ganhou força em tal proporção, que se tornou capaz de impulsionar e ameaça decidir uma corrida eleitoral? Certamente a relação mal curada que o Brasil nutre com passado ditatorial militar, os mitos que foram criados sobre esse passado e a relação ambivalente e permissiva que parte da população nutre com o crime de tortura, são elementos fundamentais, embora não suficientes como explicação.

Ainda que sempre tenha sido abertamente um apoiador da ditadura e sempre tenha feito apologia da tortura (https://www.youtube.com/watch?v=-fMdCwlwg8E), o uso eleitoral que Bolsonaro vinha fazendo desses elementos ganhava repercussão, quase exclusivamente, apenas no meio militar e entre seus apoiadores. Além disso, seu militarismo não esteve associado ao anticomunismo como alavanca eleitoral até momentos recentes. Bolsonaro nem sempre foi anticomunista, tendo inclusive apoiado publicamente a eleição de Hugo Chávez, no auge da popularidade do politico e militar venezuelano (https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,entrevista-de-bolsonaro-ao-estado-com-elogios-a-chavez-mobiliza-militancia,70002117151). Em 1999, em uma entrevista concedida ao “Estadão”, o discurso militar de Bolsonaro não representava uma flagrante contradição em relação a sua simpatia declarada pelo comunismo. Naquela ocasião, Bolsonaro compara abertamente o comunismo e o meio militar sem ressalvas ou explicações suplementares (cito Bolsonaro: “Ele [Chávez] não é anticomunista e eu também não. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar”).

Talvez uma das formas mais importantes para se compreender a associação entre antipetismo e anticomunismo seja levar em consideração o papel atípico do protagonismo brasileiro na América Latina e o cenário político da região. Embora os países autodeclarados “comunistas” tenham se espalhado pela Europa, Ásia e África durante o século XX, a América Latina abriga em si dois dos últimos países a possuírem um governo que se autodeclara “comunista”, a saber, Cuba e Venezuela (embora esse seja o caso igualmente da China, o fato de o país oriental ocupar o lugar de segunda maior economia do mundo — e que em breve atingirá a marca de maior economia do planeta –, ameaça o argumento anticomunista). O peso dessa herança simbólica latino-americana não pode ser negligenciado em nenhuma consideração sobre os fenômenos políticos locais. A era Lula, se a entendemos como igualmente influente durante os governos Dilma Rousseff, foi marcada pelo posicionamento definitivo do Brasil como liderança política e econômica estável no contexto da AL. No mesmo período, a região que havia assistido a uma subida ao poder de uma grande quantidade de políticos de esquerda, encontrava-se então em um cenário de instabilidade após uma sequencia de derrubadas de governos democráticos. O fato é que entre 2000 e 2013, a região assistiu a uma série de golpes de Estado ou mobilizações de massa que derrubaram uma grande quantidade de líderes eleitos pelo voto (Frederico Franco, no Paraguai, derrubado em 2013; Manuel Zelaya, em Honduras, derrubado em 2009; Carlos Mesa, na Bolívia, renuncia por pressão popular em 2005; Fernando de la Rúa, Adolfo Rodríguez Sá e Eduardo Camaño, na Argentina, circularam na presidência apenas no ano de 2001; Jamil Mahuad, no Equador, derrubado em 2000, sem que a lista seja exaustiva). Ainda que um governo PTista tenha sido igualmente derrubado por um golpe, até 2013 o Brasil era sinônimo de estabilidade na AL. Em todos os cenários de mudanças e incertezas, Lula nutriu boas relações diplomático-comerciais com os países vizinhos (de direita ou de esquerda), levando o Brasil a ocupar naturalmente a liderança do bloco. Os governos PTistas exploraram seu bom diálogo inclusive com os “patinhos feios” da região, em especial a Venezuela, que encontrava no Brasil um parceiro comercial que possibilitava desafogar o peso dos boicotes econômicos norte-americanos. A posição brasileira era igualmente vantajosa economicamente nessa situação, na medida em que, na ocasião, a Venezuela se mantinha como o maior produtor de petróleo e gás das Américas, e comprar gás de baixo custo de um grande produtor vizinho possibilitou impulsionar políticas de crescimento em todo o Brasil. Durante toda a duração dos governos de Lula, a associação entre o governo do PT e o diálogo entre Venezuela e outros governos de esquerda do cone sul, jamais será alvo de um apelo popular negativo, tampouco eleitoral.

Antes do período PTista, no entanto, a política de vizinhança brasileira havia sido marcada pela pouca atenção do país aos outros países latino-americanos. A elite cultural e econômica brasileira, marcada por seu pouco apreço — para não dizer preconceito — pela AL, em geral louva deliberadamente as manobras político-culturais de afastamento do Brasil em relação a seus vizinhos. A exploração da boa relação com a vizinhança latino-americana, que era uma das qualidades estratégicas do PT durante seus governos, será uma das armas fundamentais de uma campanha “incansável e intransigente” que Aécio Neves e o PMDB declaradamente movem contra o governo Dilma, após a derrota eleitoral de 2014 (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2014/11/05/aecio-neves-promete-oposicao-201cincansavel-e-intransigente201d). O olhar, que nos governos PTistas, se voltava finalmente para os laços comerciais com a AL, e os empréstimos feitos aos países vizinhos para obras de infraestrutura — que foram feitos igualmente em governos anteriores, inclusive o próprio governo FHC — não são mais vistos como posicionamento estratégico de um país líder do bloco, mas passam a servir a disseminação de insinuações sobre um plano obscuro de dominação de esquerda e/ou comunista liderado pelo PT na América Latina (http://www.tijolaco.com.br/blog/psdb-diz-que-e-escandalo-emprestar-a-cuba-esqueceram-de-perguntar-por-que-fhc-emprestou/ e https://www.institutoliberal.org.br/blog/por-que-o-psdb-e-melhor-do-que-o-pt/). O anticomunismo volta à baila explorando o horror que parte da população brasileira nutre por seu pertencimento à América Latina, em uma associação imediata entre países latino-americanos e esquerdismo. O viés moralizante da anticorrupção agora ganha associações à ideia disseminada de um interesse latino-americano PTista por países comunistas e ditatoriais, em função do aceno brasileiro aos países vizinhos. O fato é que nem Cuba, nem Venezuela, jamais estiveram entre os principais parceiros comerciais brasileiros, que eram prioritariamente a Argentina, o Japão e a União Europeia (https://www.epochtimes.com.br/brasil-perde-mercado-exportacoes-principais-parceiros-comerciais/ ). Ou mesmo programas de governo como o “mais médicos”, usado como emblema da associação entre o governo brasileiro e a ditadura cubana, na realidade reproduz um programa de políticas públicas em saúde também implantado em países como Canadá e Portugal (e que exige alta qualidade de formação médica cuja equivalência acadêmica se encontra prioritariamente entre médicos brasileiros — em geral pouco afeitos a trabalhar em áreas remotas — ou entre aqueles formados em Cuba) (https://noticias.uol.com.br/publieditorial/hora-de-saude/130913d/).

Com o êxito de sua campanha de associação do antipetismo ao anticomunismo, o PSDB inaugura definitivamente um campo aberto a recuperação de duas velhas associações típicas do ufanismo capitalista: por um lado, a associação entre “esquerdismo” e a ideia de incompetência administrativa, gerencial ou política; por outro lado, a ideia de que o comunismo ou o “esquerdismo”, no fundo, seriam uma espécie de máscara que oculta um plano silencioso de poder e dominação. A primeira associação se alimenta de uma contraposição à estética do administrador privado, da imagem do gestor de empresas eficiente que, não se sabe ao certo o motivo, se encaixaria perfeitamente na gestão pública. O gestor eficiente deve usar jargões da Escola Austríaca ou da Escola de Chicago, sem barba, face limpa, autônomo e com fala ativa, cabelo penteado com gel. Branco e limpo como deve ser a administração de negócios (enquanto o “esquerdista” anda sempre barbado ou são mulheres não-depiladas e sujas, ambos escravos de alguma lavagem cerebral). A segunda associação desmente toda proposta de transformação política por meio de justiça social. Não importa o que seja efetivamente o comunismo, o socialismo ou a esquerda (tampouco importa as diferenças abissais que existem entre esses termos): o fato é que torna-se imperativo revelar a face dessas orientações políticas, mostrando que nunca se tratou efetivamente de distribuir os meios de produção, produzir igualdade ou fazer justiça social. Quando a verdade oculta emerge — reparem na quantidade de vídeos que “desmascaram” os adversários dos conservadores nas redes sociais — evidencia-se o que sempre “motivou efetivamente” esses grupos: um plano oculto alimentado pela sede de poder. Mais especificamente no Brasil, o plano oculto comunista teria se constituído por meio da corrupção, como forma de usufruir de maneira ilícita do dinheiro público. O embate, portanto, é moral, não político. O anticomunismo se alimenta da ideia de que estar do lado das forças de esquerda significa estar ao lado de um plano de dominação nacional e, ao mesmo tempo, significa escolher a ineficiência política. Por exemplo, na condenação ao governo Dilma, antes e depois do processo de impeachment, a oposição jamais menciona a nociva vulnerabilidade brasileira em sua dependência da oscilação do valor internacional das commodities; oscilação que ameaça a economia brasileira de maneira cíclica, e que ajudou a fazer o país ingressar em uma de suas maiores crises econômicas históricas. O debate se limita a associar seu governo de centro-esquerda à crise venezuelana, de matriz econômica radicalmente distinta, através do vínculo terminológico ‘esquerda’.

Nessa linha, o Brasil reencontra o pânico macarthista norte-americano do fim da década de 1950. Naquela época, a cultura pop norte-americana, aficionada pelas referências a cultura latino-americana, sofre o impacto de sua humilhação internacional gerada pela revolução cubana, que os EUA não conseguiram impedir a poucos quilômetros de suas fronteiras. A perseguição comunista que acontecia no interior dos Estados Unidos se associa imediatamente a uma eliminação de todas as referencias a América Latina presente nos filmes de Hollywood, da Disney e da cultura de massa de modo geral, em vínculo imediato entre América Latina e comunismo. Os musicais hollywoodianos ao som da salsa, Zé Carioca e Carmem Miranda se tornam velhas sombras da América Latina, berço do comunismo. Não se produzirão outros personagens como esses. O espectro do comunismo ronda não mais a Europa, como dizia Marx, mas a América Latina. Para o anticomunismo, esse espectro se produz como um risco que ameaça retornar, estando sempre a espreita, e que é preciso combater incessantemente. Mobilização constante pelo medo, arma eleitoral útil. Portanto, um governo que vira seus olhos para a AL (como o PT) pode facilmente ser associado ao comunismo, ainda que este emblema permaneça extremamente frágil e sem amparo em qualquer política do partido. Em 13 anos de governo o PT não deu um golpe, não tomou os meios de produção, não convocou uma constituinte e não modificou a bandeira brasileira para uma bandeira vermelha. Longe disso, possibilitou lucros assombrosos aos bancos, fomentou a abertura de microempresas, expandiu programas para os miseráveis e teve em sua base de governo tanto o MST quanto os megaempresários ruralistas.

Bolsonaro antes e depois do antipetismo

Durante os 13 anos de governos do PT, seja através de sua filiação ao PTB, seja através de seu vínculo partidário com o PP, Bolsonaro se manteve na base aliada ampla dos governos PTistas. Apenas no fim de 2015, quando da evasão generalizada dos partidos que formavam a base governista, Bolsonaro abandona o PT quando seu partido a época, o PP, abre mão dos diversos postos ministeriais que possuía no governo PTista. Portanto, até 2015, Bolsonaro jamais fez qualquer movimento de afastamento, tanto em relação ao PT, quanto em relação a seu partido, o PP, mesmo após a eclosão do mensalão e da operação Lava-Jato. Mais grave do que isso. O PP, partido de Bolsonaro durante sete anos, embora tenha saído praticamente ileso desses escândalos, teve mais condenados na operação Lava-Jato do que o próprio PT. Enquanto o PP teve 31 membros condenados na operação, o PT teve 6 membros indiciados e condenados (http://meucongressonacional.com/lavajato/parlamentares). Em termos numéricos (e não em termos morais) esses escândalos de corrupção envolveram uma série de partidos, mas beneficiaram acima de tudo o PP. Mas é preciso recordar: o único movimento feito por Bolsonaro contra o PT até o ano de 2015 foi acompanhar seu próprio partido, que igualmente afundava em escândalos, em sua saída da base aliada PTista. Bolsonaro apenas vai abandonar o próprio PP para garantir sua disputa eleitoral a presidência em 2018, garantia que o nanico PSL ofereceu incondicionalmente ao deputado-capitão. Ainda que se queira acreditar que Bolsonaro desconhecia a lama em que estava envolvido seu antigo partido (chance que o antipetismo não ofereceu a Lula), ao ingressar em sua legenda atual, o PSL, o deputado troca um partido marcadamente corrupto, por um partido que já foi considerado um dos menos transparentes do Brasil (https://exame.abril.com.br/brasil/psl-novo-partido-de-bolsonaro-e-o-menos-transparente-do-brasil/). Antes das eleições de 2018, o PSL possuía apenas 8 congressistas em seus quadros, embora 18 membros do minúsculo partido fossem condenados por corrupção, tornando-se “ficha suja”.

O próprio nome de Bolsonaro apareceu publicamente, desde 2005, como um dos beneficiados pela propina da chamada “Lista de Furnas”, um esquema de corrupção organizado pelo PSDB e com ativa participação do PP, financiado pelo publicitário Marcos Valério (o mesmo do mensalão), que envolvia nomes ilustres da corrupção brasileira como Eduardo Cunha: “Segundo o jornalista Kiko Nogueira, “Bolsonaro age como se fosse uma virgem no bordel”. Ele era do Partido Progressista, o que mais aparecia; proporcionalmente, nas investigações da Lava Jato — mas sua campanha era irrigada com boas vibrações do Espírito Santo. Acabou migrando para o PSC, ninho de pastores evangélicos. Um deles, Everaldo, o presidente, pediu dinheiro a Cunha, segundo a PF” (https://www.correiodobrasil.com.br/bolsonaro-tem-nome-citado-lista-quebra-sigilo-tucano-aecio/) . O caso da “Lista de Furnas” não avançou nas investigações, mas o Pastor Everaldo, do PSC, partido de Bolsonaro durante curto período após sua saída do PP, em 2016, foi condenado por desvio de dinheiro público originalmente destinado aos jogos Pan-Americanos, no Rio. Bolsonaro continuou apoiando o pastor, mesmo após sua condenação (https://oglobo.globo.com/brasil/familia-bolsonaro-apoia-no-rio-candidato-condenado-por-desvios-no-pan-22921938).

A biografia política de Bolsonaro é a principal rival da fabricação de sua imagem de político outsider. O longo, acomodado e pouco eficiente percurso de sua carreira política depõe flagrantemente contra a imagem de que Bolsonaro representaria o “novo” na política. Bolsonaro sempre foi um político orgânico, membro do chamado “centrão”, a casta mais baixa do parlamentarismo brasileiro, conjunto de parlamentares e de partidos que tendem a se movimentar ao sabor de suas associações com os poderes de ocasião e segundo seus interesses eleitorais. A principal característica do “centrão”, que é igualmente a característica da carreira política de Bolsonaro, é a perpetuidade no poder (no caso do candidato a presidente, quase 30 anos de Câmara dos Deputados) e a inconstância em relação a posições políticas, embora mantendo a fidelidade aos interesses de determinada base eleitoral, capaz de sempre assegurar uma nova vitória eleitoral.

Como o nicho eleitoral de Bolsonaro é oriundo do meio militar, seu vínculo imediato na Câmara sempre foi mantido com a chamada “bancada da bala”, que junto à bancada ruralista acumula a maior quantidade de deputados do país. É desse vínculo com a ampla (e corrupta) bancada da bala, que descende a pauta que tornou-se a marca registrada de Bolsonaro: a defesa do armamentismo. Essa pauta é uma antiga reivindicação das grandes corporações de armas de fogo e munições brasileiras, desde a crise no setor que se inicia após a confirmação do estatuto do desarmamento. Essa crise enfraqueceu de forma avassaladora a fabricação de armas no país, a ponto da indústria nacional contar basicamente hoje com apenas uma grande marca de armamento, a Taurus. Bolsonaro frequentemente aparece publicamente como uma espécie de garoto propaganda “informal” da marca (https://www.youtube.com/watch?v=Yf-Rc3uJArA). Além disso, a indústria de armamentos, junto a indústria farmacológica, é o setor industrial mais lucrativo no mundo (produzindo certa de US$ 1,7 trilhão em três anos) (https://www.redebrasilatual.com.br/revistas/91/ricos-poderosos-e-sem-limites-2814.html) , e o assédio das marcas estrangeiras de armas a um potencial mercado brasileiro, tem se servido da propaganda que a bancada da bala tenta espalhar pelo país, na tentativa de forçar a penetração dessas empresas no Brasil, utilizando-se do lema da liberdade de autodefesa (reproduzindo a poderosa estratégia norte-americana da indústria de armamentos) (https://www.youtube.com/watch?v=J3oqVtsMmqg) .

Visando apoio eleitoral, Bolsonaro passou a acenar também à bancada ruralista (a mais numerosa, mais poderosa e mais corrupta do país, com 266 deputados), passando a defender abertamente algumas das velhas pautas daquela bancada: especialmente a pauta do fim da demarcação das terras indígenas e quilombolas (http://amazonia.org.br/2017/09/bancada-ruralista-ja-propos-25-projetos-de-lei-que-ameacam-demarcacao-de-terras-indigenas-e-quilombolas/) . Esses temas, que possuíam baixíssimo apelo popular, junto a chamada “lei da grilagem”, que permite que grandes fazendeiros invadam e tomem posse de terras indígenas e da união, despertaram grande simpatia dos velhos coronéis da agro-indústria para a candidatura de Bolsonaro. Foi através da mesma lei da grilagem e do afrouxamento das demarcações de terras indígenas que Temer negociou o apoio dos deputados ruralistas que conseguiu barrar as investigações das suspeitas de corrupção contra o presidente, evitando seu afastamento do governo (http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/07/temer-sanciona-mp-que-regulariza-ocupacao-de-terras-da-uniao.html e https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/temer-amplia-pacote-de-bondades-a-ruralistas-para-barrar-segunda-denuncia-nesta-semana/). Em síntese, Bolsonaro se utiliza da mesma moeda de troca que Temer se utilizou para comprar seus testas-de-ferro na câmara. Esse gesto chamou a atenção dos nacionalmente conhecidos magnatas do setor da agroindústria, o grupo JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista, hoje presos por corrupção. Em 2014, durante mais uma campanha para investir novamente o cargo de deputado federal, Bolsonaro recebeu em sua conta pessoal o depósito de R$ 200mil como doação de campanha do grupo JBS (https://www.metropoles.com/brasil/politica-br/site-do-tse-mostra-que-bolsonaro-recebeu-doacao-da-jbs) . Para além da cansativa discussão sobre a devolução da quantia ou sobre uma possível estratégia de lavagem de dinheiro, o fato é que a JBS não viu em Bolsonaro um político anti-sistema, crítico da corrupção ou das negociatas partidárias. Ao contrário, o grupo JBS viu em Bolsonaro um político orgânico, afinado com seus interesses e com os interesses dos magnatas da agroindústria, submisso a seus comandos, e que ofereceria as contrapartidas necessárias para compensar o investimento de R$ 200mil do grupo no capitão-deputado. Foi igualmente o que enxergou Temer ao convidar Bolsonaro para um jantar de negociação que levou o deputado-capitão a ceder de sua posição original registrada e divulgada em vídeo, finalmente apoiando a chamada “PEC do teto de gastos”, após participar das negociatas que foram tramadas igualmente entre Temer e a bancada ruralista (https://www.youtube.com/watch?v=qdnatth29Dc).

Como uma trajetória tão comum e pouco significativa do ponto de vista político, como a de Bolsonaro, pôde produzir, ao fim, um político de destaque? Não é possível menosprezar a importância do uso massivo de vídeos e de propaganda que a equipe do parlamentar vem disseminando nas redes sociais, durante os últimos três anos. A linguagem extremamente simples ao comentar problemas complexos e a frequente alimentação de polêmicas, geraram uma visibilidade incomum para um político com uma biografia tão inexpressiva como a do deputado-capitão. A virada, de dimensões nacionais, acontece durante o próprio processo do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Naquele momento, a fusão entre a propaganda distribuída nas redes sociais e o uso político de temas polêmicos, atinge seu auge.

No cenário da votação do processo de impeachment, o embarque no antipetismo já havia se tornado generalizado entre quase todos os partidos brasileiros. Naquele momento, o simples ato de bradar contra Dilma ou Lula diante das câmeras de televisão era anulado pelo aparecimento do próximo deputado, bradando os mesmos jargões repetitivamente. Mesmo os PSDBistas, que entendiam a si mesmos como os antipetistas “originais”, acabaram desaparecendo em meio a multidão. Mas a estratégia de Bolsonaro foi exitosamente calculada. O então deputado se utilizou da colossal visibilidade nacional do processo de impeachment televisionado, para ganhar destaque diante de todos os outros parlamentares. Ao evocar o nome do militar torturador Brilhante Ustra, Bolsonaro conseguiu produzir duas noticias bombásticas em um mesmo evento. Na manhã seguinte ao impeachment, os jornais noticiavam a derrubada de Dilma Rousseff e a declaração polêmica e raivosa do deputado Jair Bolsonaro, de apologia a ditadura e a tortura. O nome de Ustra, completamente desconhecido pela maioria dos brasileiros até aquele momento, passa a ser comentado, pesquisado e conhecido, inclusive entre os mais jovens que pouco ou nada conheciam sobre a história da ditadura militar brasileira. Na mesma noite em que Dilma e o PT são condenados como inimigos nacionais, os jovens descobrem pela internet que a própria Dilma já havia sido caçada no passado, por uma espécie de “anjo vingador” militar.

O saldo final da estratégia de Bolsonaro foi vitorioso. Ele passa a ser comentado em destaque e lembrado em associação direta ao processo de impeachement, como o antipetista por excelência. O terror de Dilma Rousseff, como sua frase declarou. Naquele momento sua imagem passa a ser moldada como uma espécie de reedição atual do primeiro militar que combateu a jovem Dilma. Bolsonaro se lança no cenário nacional como uma espécie de herói militar que assume para si a tarefa de reeditar a vitória militar contra o PT e o comunismo, assim como teria sido feito por Ustra no passado.

O messianismo dessa estratégia contrasta radicalmente com a realidade, não apenas com a vergonhosa história de Ustra, mas igualmente com as manobras que Bolsonaro tem sido levado a fazer, em sua tentativa de ganhar as eleições presidenciais de 2018. Mesmo com o apoio das grandes bancadas da bala e da bancada ruralista, a rejeição popular a Bolsonaro permanece gigantesca. Na esperança de ganhar em primeiro turno, o candidato recorreu ao apoio do Bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, na tentativa de aproveitar o recrutamento do grande número de fiéis seguidores daquela denominação religiosa. Edir Macedo é uma das mais poderosas alavancas eleitorais do país, figura extremamente disputada por políticos de todos os partidos e denominações, além de um notório negociador da fé, flagrado e divulgado nacionalmente pela rival de seu canal de TV particular, a Rede Globo (https://www.youtube.com/watch?v=W7wqqJFtaYc). Mesmo com o apoio declarado pelo pastor a Bolsonaro, uma semana antes da votação do primeiro turno eleitoral, o candidato não conseguiu atingir os votos necessários para assumir o cargo. Quais as alternativas agora? Nesse momento, Bolsonaro começa a negociar alianças novas com o chamado “centrão”, que enxerga no apoio ao candidato a oportunidade de garantir espaço na composição de seu eventual governo. Mas Bolsonaro tentou um desvio estratégico em suas alianças, para tentar iludir a opinião pública. Ele tem recorrido a alianças articuladas individualmente com cada parlamentar, precisamente para evitar a associação entre seu nome e as siglas dos partidos tradicionais da política do “toma lá da cá” que ele próprio participou no passado. De agora em diante, Bolsonaro vai ter que voltar a se parecer muito com o que ele era antes de 2016, um político orgânico, envolvido com os típicos agentes das piores negociatas políticas brasileiras.

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