Colóquio Internacional Sobre Max Martins

Ney Ferraz Paiva
Revista Caliban issn_0000311
5 min readApr 23, 2024

--

Instituto de Estudos Brasileiros — Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Cartaz do Colóquio

O Colóquio realizou-se nos dias 18 e 19 de abril, com a assinatura coletiva da Comissão Organizadora: Osvaldo Manuel Silvestre (Universidade de Coimbra) Alberto Sismondini (Universidade de Coimbra) Keissy Carvelli (Doutorada em cotutela entre UNESP-Assis e Universidade de Coimbra) André de Aquino (Estudante de Doutoramento, IEL-UNICAMP) Leila Coroa (Estudante de Doutoramento, IEL-UNICAMP).

Com um primeiro livro publicado em 1952, O Estranho, Max Martins (1926- 2009, Belém do Pará) viria a afirmar-se, no seu modo discreto, mas persistente, como um dos mais importantes poetas brasileiros da segunda metade do século XX. Beneficiando de um ecossistema peculiar, no qual uma imagética amazónica de teor genesíaco e uma forte dinâmica intelectual dentro de um pequeno grupo, parecem compensar da distância em relação aos grandes centros culturais brasileiros, Max Martins elegeu desde cedo uma versão da radicalidade do moderno na qual a “travessia da página” e a “discursividade espasmódica”, para citar o seu companheiro de percurso Benedito Nunes, se harmonizam num corpo a corpo em que matéria da linguagem e arte erótica se tornam uma coisa só. Ao mesmo tempo, porém, esta poesia produz toda uma teoria do antirretrato, explorando o nome próprio do autor, decompondo-o, fazendo dele morfema e fonema numa deriva paronomásica e sígnica que instabiliza o ponto de apoio de toda a elocução da sua poesia e faz do nome traço, decalque e recalque de um signo em eterna incoincidência consigo mesmo. É esta obra, admiravelmente editada entre 2015 e 2021 pela Editora da Universidade Federal do Pará, em volumes de concepção gráfica cuidada (da responsabilidade do seu parceiro em aventuras literárias, e designer, Age de Carvalho) e com prefácios da responsabilidade de alguns dos nomes de referência dos estudos literários no Brasil e no exterior, que é agora objeto de um colóquio internacional, no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra nos dias 18 e 19 de abril de 2024. O evento contará ainda com uma exposição bibliográfica de livros de Max Martins (as primeiras edições e a edição atual na UFPA) e de reproduções de materiais do acervo do poeta no Museu da UFPA.

Resumos

Verdesejante verdizente verdescrito: a ocologia amazônica de Max Martins Marcos Siscar / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

A proposta é retomar a questão do espaço amazônico na poesia de Max Martins. Decompondo e conjugando os significantes do verde e do esverdear, o poeta reelabora as relações entre o mundo e a linguagem, aproximando-se da lógica do vivente, de uma espécie de fluxo no qual o lugar de pertencimento é também um oco.

Max Martins: um antirretrato Leila Melo Coroa / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Apresentam-se análises das materialidades da autobiografia na poesia de Max Martins, particularmente da prática do arquivo na materialidade do livro 60/35; ressaltam-se os procedimentos da contrassinatura e do espelhamento controverso, compreendidos sob a técnica da colagem. Defende-se que no caso desse livro e da obra de Max em geral a poesia é performance de uma rasura da autobiografia.

Os chamados do tigre: desejo e desenho da fera na poesia de Max Martins Alva Martínez Teixeiro / Universidade de Lisboa

A partir do exame do exercício do olhar que na poesia de Max Martins foca a figura do tigre, num aggiornamento apropriador do tigre de Blake, a comunicação pretende refletir sobre o modo como essa imagem nos faz entrar no enigma da natureza animal, para pensar o complexo mundo erótico-amoroso cantado pelo poeta.

Um endereço em fuga: a poesia de Max Martins André de Aquino Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

A casa é uma figura muito importante na obra de Max Martins, desde o seu primeiro livro. Em “A cabana”, parece formar um endereço em fuga. Esse poema é um tipo de convocação a ir ao inseguro e ao risco, a sair de si, do familiar ao estranho e ao estrangeiro. No entanto, encena uma saída de casa dentro de casa.

“Já então é tudo pedra”: Max Martins ou o poema como epitáfio Osvaldo Manuel Silvestre / Universidade de Coimbra

A poesia de Max Martins parece não ser compreensível sem a encarnarmos num corpo e numa presença que aspira a um lugar para o qual toda ela é caminho: “Marahu”, digamos. Uma outra versão deste processo é a que insiste na erotização da dicção lírica, como se corpo e texto aspirassem ao mesmo espasmo rastreável na página. Contudo, essa fenomenalização de voz e corpo confronta-se com o abismo que funda a linguagem enquanto representação e que a abre ao perigo da morte da presença e do sentido, abrindo a escrita à reversibilidade entre túmulo e epitáfio: “Este não é o túmulo, é o poema” (“Túmulo de Carmencita, 1985”). Tentarei interrogar esta situação da poesia de Max Martins enquanto escrita que inscreve no seu próprio nome (“Max, magro poeta”) a crítica da possibilidade de a poesia ser mais do que traço de uma ausência: “H’era” ou “pá nas minhas mãos vazias”.

T’OURO Pedro Serra / Universidade de Salamanca

A arte, aventa Francisco Jarauta, «não começa com Narciso, mas sim com o Minotauro». A minha intervenção atrai, por um lado, o poema de Max Martins «Negro e taciturno, o touro» (1967, 1971, 1992, 2001, 2016), cujo par veio a lume em 2021, sendo inscrito como «II» em Say it (over and over again), volume de inéditos, esparsos e fragmentos do poeta paraense organizado por Age de Carvalho; igualmente, comento «Estava o touro» (1980, 1992, 2001, 2016). E, por outro, conjuro o poema «Narciso» (1952, 1992, 2001, 2015). Neste sentido, ambas as modalidades alienológicas — postas em relação a cronografia táurica e a cronografia narcísica — lançam-nos no problema do simbólico e do alegórico na ficção poética.

Eu era dois, diversos? Age de Carvalho

Anotações sobre a Amizade e a Poesia com Max Martins.

Uma leitura gráfica da Poesia completa de Max Martins Ana Sabino / Inst. de Literatura Comparada Margarida Losa (FLUP)

Aproveitando a presença de Age de Carvalho — amigo, editor, e também designer da obra de Max Martins agora reeditada — iremos analisar os livros enquanto objetos gráficos, fazendo comparações com outras edições dos mesmos autores (não esquecendo que Age é, também ele, poeta) e procurando a razão de certas opções gráficas e materiais

A fala (de novo) entre parêntesis Eduardo Sterzi / Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Em 2021, a Editora da Universidade Federal do Pará publicou aquele que é o último volume da poesia completa de Max Martins, o livro póstumo Say it (over and over again), que reúne — como diz seu subtítulo — “poemas inéditos, esparsos & fragmentos”. Foi organizado, como a coleção que conclui, pelo poeta Age de Carvalho, amigo por décadas de Max e autor, com este, de um livro a quatro mãos que segue livremente a forma japonesa coletiva da renga, A fala entre parêntesis, de 1982. Propomos, aqui, uma leitura cruzada de ambos os livros, como dois momentos de uma colaboração poética que mesmo a morte de um dos interlocutores não encerra.

Comissão Científica: Alva Martínez Teixeiro (Universidade de Lisboa) Eduardo Sterzi (UNICAMP) Marcos Siscar (UNICAMP) Pedro Serra (Universidade de Salamanca)

Apoios: UNICAMP, Direção da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Centro de Literatura Portuguesa, e Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas, da mesma Faculdade, Museu da Universidade Federal do Pará.

--

--