Cantadores do Nordeste

Ed Caliban
Revista Caliban issn_0000311
1 min readMar 10, 2020

--

Por Manuel Bandeira

Xilogravura: Geraldo Queiroga e Zé de Lima

.

Anteontem, minha gente,

Fui juiz numa função

De violeiros do Nordeste.

Cantando em competição,

Vi cantar Dimas Batista

E Otacílio, seu irmão.

Ouvi um tal de Ferreira,

Ouvi um tal de João.

Um, a quem faltava o braço,

Tocava cuma só mão;

Mas, como ele mesmo disse

Cantando com perfeição,

Para cantar afinado,

Para cantar com paixão,

A força não está no braço:

Ela está no coração.

Ou puxando uma sextilha

Ou uma oitava em quadrão,

Quer a rima fosse em inha,

Quer a rima fosse em ão,

Caíam rimas do céu,

Saltavam rimas do chão!

Tudo muito bem medido

No galope do sertão.

A Eneida estava boba;

O Cavalcanti, bobão,

O Lúcio, o Renato Almeida;

Enfim, toda a Comissão.

Saí dali convencido

Que não sou poeta não;

Que poeta é quem inventa

Em boa improvisação,

Como faz Dimas Batista

E Otacílio, seu irmão;

Como faz qualquer violeiro

Bom cantador do sertão,

A todos os quais, humilde,

Mando a minha suadação.

Manuel Bandeira

--

--